segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ave Franklin!, por BruneLLa França

Por uma blogosfera livre!

O jota-i entra também na campanha pela blogosfera livre.
O resumoé o seguinte: blogueiro Antonio Arles (estudante de História da USP, militante de movimentos sociais, ciberativista) versus grupo Folha.

Mais informações sobre o caso, você encontra aqui, aqui e aqui.

E o que diz o estudante? Confira nessa entrevista, retirada do blog Vi o mundo.


Antonio Arles: Aproximadamente às 14 horas, quando saía de casa para a USP. Minha mulher [Flávia] manobrava o carro na garagem e eu esperava na calçada. Aí, fui abordado por um motorista de táxi, que perguntou se eu era Antonio. À confirmação, apontando na direção de um táxi parado no lado oposto à minha casa, disse: “Ela quer falar com você”.

Viomundo: Ela era quem?

Arles: Uma mensageira do escritório de advocacia que representa o jornal e o portal. Ela limitou-se a dizer que havia uma correspondência para mim e pediu-me que assinasse o protocolo de recebimento. Como estava atrasado para a aula, abri o envelope no caminho. Aí, eu vi que se tratava de uma notificação extrajudicial dos advogados da empresa pelo uso indevido da imagem na campanha pelo cancelamento das assinaturas da Folha e do Uol.

Viomundo: A campanha começou quando?

Arles: Domingo passado.Na sexta-feira passada [27 de novembro], em função da publicação do artigo Os filhos do Brasil, do César Benjamin, começou no twitter um movimento para cancelamento das assinaturas. No domingo, como já havia muitas adesões, resolvemos lançar a campanha.

Viomundo: É uma campanha do seu blog?

Arles: Não. É de várias pessoas da blogosfera. Para facilitar o acesso, eu coloquei os links das imagens no meu blog. A partir daí o pessoal foi disseminando.

Viomundo: O que contêm essas imagens?

Arles: As marcas da Folha e do Uol.

Viomundo: Qual a alegação dos advogados?

Arles: Uso indevido da imagem. No final da tarde, fiz o que notificação determinou: retirei as imagens do ar. Consequentemente a própria campanha do meu blog.

Viomundo:
O que você pretende fazer agora?

Arles: Meu advogado está estudando medidas legais cabíveis contra essa postura da Folha. Considero intimidação. É cerceamento à liberdade de expressão.

A notificação da Empresa Folha da Manhã SA e do Universo Online SA afirma que "a marca da Folha e do Uol foram indevidamente utilizadas, agravando-se tal fato pelo seu denegrimento", e reproduz as imagens que ilustram esta matéria. "tal atitude fere diversos dispositArtigo 189, I, ivos legais, constituindo crime previsto no Artigo 189, I, da Lei nº 9/279/96".

O Viomundo observa a respeito que "denigrir [ou, como prefere a notificação, denegrir} é um termo racista. Significa tornar negro, em sentido pejorativo. Há outras palavras para expressar o que desejam, mas recorrem a uma com conotação preconceituosa, que associa o tornar-se negro a algo negativo. Denigrir, segundo o dicionário do Houaiss, quer dizer também diminuir a pureza, o valor de; conspurcar(-se), manchar(-se)."

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sociabilidade tecnológica: o descrédito do próximo, a perda do outro e a dúvida de si mesmo

Resumo
A cultura da virtualidade proporcionada pelos meios eletrônicos de comunicação (re) cria toda uma conjuntura de relações pessoais e de trocas simbólicas. A interação face a face, em certa medida, dá lugar à interação mediada pela tecnologia. O presente artigo se propõe a explicitar algumas maneiras de como o desenvolvimento dos meios técnicos de comunicação transformou as formas de sociabilidade, criou novas formas de identidade pessoal, alterou as formas de percepção do individuo sobre o outro e modificou as maneiras de transmissão, recepção e decodificação de bens simbólicos.

Palavras-chaves: mídia, comunicação, interação, sociabilidade, identidade e modernidade.

Introdução
É crédito dos chamados teóricos da mídia e da modernidade, tais como Stuart Hall e John B. Thompson, terem realçado o fato de que o desenvolvimento dos meio técnicos serve para reorganizar e reconstituir a interação social. Esses teóricos argumentam que o surgimento de novos meios técnicos possui um impacto fundamental nas maneiras como as pessoas reconhecem a si próprias e como agem e interagem umas com as outras. Hall analisa que “quanto mais a vida social se torna mediada [...] pelas imagens de mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades [...] parecem flutuar livremente” (Hall, 2006, p.75). Segundo seus estudos, o resultado disso é uma fragmentação das tradições culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, por se encontrarem com fronteiras menos definidas, provocam no individuo uma crise de identidade. Para Thompson, a cultura moderna é, de uma maneira cada vez maior, “‘uma cultura eletronicamente mediada’, em que os modos de transmissão orais e escritos foram suplementados e, em até certo ponto substituídos, por modos de transmissão eletrônicos” (Thompson, 1995, p. 297).

O reflexo das transformações da identidade na sociabilidade
O sujeito é o elemento central das interações sociais. Por isso, cabe destacar a relevância do conceito de sujeito pós-moderno feito por Hall. Segundo o teórico, diferentemente do sujeito do Iluminismo cuja base é a concepção do individuo totalmente unificado e centrado, e do sujeito sociológico cuja essência é formada a partir da interação entre o inato e o mundo exterior, o sujeito pós-moderno “assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um ‘eu’ coerente” (Hall, 2006, p. 13). Diante dessa concepção, a questão da identidade na pós-modernidade assume uma diversa pluralidade. As identidades tornaram-se menos fixas e mais fluidas. Essa fluidez é, também, resultado e resultante da inovação tecnológica. Os meios técnicos possibilitam às pessoas comunicarem-se de maneira eficiente ao mesmo tempo em que as condicionam a adaptarem seus comportamentos para corresponder ás novidades oferecidas pelo desenvolvimento dos novos meios de comunicação. Thompson avalia que “ao separar a interação social do local físico, o desenvolvimento dos meios técnicos afeta, também, as maneiras como, e o quanto, os indivíduos são capazes de gerenciar sua auto-representação” (Thompson, 1995, p. 302). O exemplo que utiliza para fundamentar sua teoria é o de uma conversa telefônica entre sócios comerciais, na qual um deles ou ambos poderiam procurar suprimir ruídos do local físico para que a imagem que desejariam projetar fosse compatível com o referencial interativo.
Outro ponto importante da análise de Thompson é o estabelecimento de novos contextos e formas de interação onde as pessoas estão rotineiramente integradas na recepção e apropriação das mensagens mediadas pelos meios. As pessoas condicionam seus comportamentos não só para enviar como também para receber os conteúdos midiáticos. O telefone fornece outro exemplo bastante ilustrativo. Quando um empresário ou alguém em cargo de chefia contrata uma secretária, a função específica desta, além de lidar com a documentação referente ao trabalho do chefe, é atender ao telefone. O simples ato da contratação de uma secretária demonstra um condicionamento comportamental dos indivíduos envolvidos em função da adequação ao produto mediador que é, no caso, o telefone.
Interações mediadas implicam, como fala Thompson no livro A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia, em um estreitamento da possibilidade de deixas simbólicas trocadas entre os interlocutores. “Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambigüidade na comunicação” (Thompson, 2005, p. 79). Uma carta comercial, por exemplo, possui menos deixas simbólicas do que uma conversa telefônica que trataria do mesmo assunto. A carta não possibilita os símbolos próprios da oralidade: entoação da voz, pausas mais ou menos prolongadas entre as palavras ou as frases, etc. Em contrapartida, uma conversa telefônica inviabiliza toda uma gama de deixas simbólicas que só seriam possíveis em uma conversa face a face: expressões faciais, linguagem corporal, sustentação ou não do olhar, etc.
Os meios técnicos possibilitam às pessoas interagir umas com as outras através de distâncias temporais e especiais. É, dessa forma, característica dos meios técnicos separar a interação social do local físico, ampliando as possibilidades de interação. Para Thompson isso é uma conseqüência positiva uma vez que “os meios de comunicação de massa ampliam a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no espaço” (Thompson, 1995, p. 299) permitindo tipos específicos de interação mediada e de trocas simbólicas entre produtores e receptores. As trocas de e-mails, por exemplo, servem para ilustrar a gama de possibilidades de interação social independentemente da situação espaço-temporal vivenciada pelos participantes. Em contrapartida, Thompson acredita que a constituição espacial e temporal da interação mediada restringe a natureza das relações formadas através dessa interação. “Uma pessoa conhecida apenas através das conversações por telefone é, literalmente, uma pessoa sem rosto e, na maioria dos casos, é improvável que ela se torne objeto de um laço emocional profundo” (Thompson, 1995, p. 302).
A compressão espaço-tempo proporcionada pelo desenvolvimento dos meios técnicos altera também, de acordo com Hall, os sistemas de representação. “O tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação” (Hall, 2006, p. 70). O teórico explica que a pintura, a escrita, a fotografia, e todas as formas que o homem utiliza para representar a si mesmo, aos outros e aos lugares que o rodeiam carregam seus referencias de espaço e de tempo. Se os referencias se alteram, a representação que o homem faz deles também se altera. Sendo o homem espelho da realidade que o cerca e, sendo na modernidade essa realidade fragmentária e dispersa, o homem “vê a si próprio/a espelhado nos fragmentos e fraturados rostos que olham os planos e superfícies partidos de uma das pinturas cubistas de Picasso” ( Hall, 2006, p. 71).

Considerações finais
A construção da realidade, na qual privilegia-se a informação midiatizada em detrimento da informação dos sentidos cria uma sensação de volatilidade diante da vida. O resultado disso parece ser o inicio de um colapso da comunicação social devido a um progressivo isolamento individualista na medida em que sujeitos sem face praticam uma sociabilidade dispersiva em um espaço físico que, na era da tecnologia da informação, é suplementado por um espaço social dilacerado pela velocidade e pela aleatoriedade. Tudo se dilui conforme as regras da tirania do fugaz, como descreve John Berger (2004, p. 218): “É um espaço sem horizonte. Tampouco há continuidade entre as ações, em pausas, nem atalhos, nem linhas, nem passado, nem futuro. Vemos apenas o clamor de um presente desigual e fragmentário. [...] O que vemos é uma espécie de delírio espacial.” Há um embaralhamento dos tempos e, as noções de passado, presente e futuro perdem significado. É o que Lyotard chama de “fim das grandes narrativas”.
O espaço público representado pela cidade e seus ambientes de socialização está sendo solapado pelo espaço domiciliar equipado pelos aparatos tecnológicos. “Na atualidade frenética, as relações tendem a virtualizar-se ou telerrealizar-se no cenário de midiatização, caracterizado por mediações e interações baseadas em dispositivos teleinformacionais” (Sodré, 2002, p. 21-25). No discurso legitimador dessas transformações sociais, o mito da intensidade se sobrepõe à importância da durabilidade. E a quantidade à qualidade. “O parâmetro com que se mede o valor da experiência tende a ser sua capacidade de produzir entusiasmo, não a profundidade de suas impressões” (Bauman, 2004, p. 231).
Ainda citando Bauman, em Modernidade Líquida, o autor lembra que historicamente “o progresso era identificado com o abandono do nomadismo em favor de um modo de vida sedentário” (2001, p. 214). Porém na era da virtualidade “as populações sedentárias sitiadas recusam-se a aceitar as regras e riscos do novo jogo de poder ‘nômade’, atitude que a nova elite global acha extremamente difícil de entender e não pode perceber senão como um sinal de retardamento e atraso” (2001, p. 226).

Referências bibliográficas

BAUMAN, Zigmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BERGER, John. El tamaño de uma bolsa. Buenos Aires: Taurus, 2004.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
SODRÉ, Muniz. Antropologia do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2002.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social critica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bem senhoras e senhores. Por BruneLLa França.

gica da bola

Na infância, mágica costumar vir sempre associada a um objeto. A tal varinha. Quantos não sonhamos em ter uma delas? Mas, nem só de varinha vive o reino da magia. Num primeiro olhar, ela não tem nada de especial. Num segundo também não. Num terceiro, continua a não ter.

Observada atentamente, uma bola de futebol não parece mesmo promissora para a magia. Sozinha, ela é tão comum quanto qualquer outro objeto. Assim como a varinha, a bola não faz mágica sozinha. A varinha precisa da mão do mágico. A bola, do pé.

Chuta, rola, passa, corre, dribla, voa, pedala. Ao contrário da varinha, que toca outros objetos e os faz encantados, a bola encanta a si mesma ao encontrar o talentoso toque dos pés.

Não sabemos explicar como uma simples varinha faz surgir um coelho de dentro de uma cartola; como faz alguém desaparecer e depois reaparecer. Parece tão fácil. Também parece fácil quando vemos grandes mágicos com a bola nos pés encontrando espaço entre quatro jogadores e saindo sozinho para fazer o gol.

Mas existem mágicas que não se explicam. Faltam palavras! Assim como existem mágicos da bola que não se explicam. Também faltam palavras. Rainha? Alteza? Gênia? Majestade? Que ‘nome’ dar para ela? Como definir o que ela faz com a bola nos pés? Arte? Mágica? Não sei.

Assim como acompanhamos um mágico fazer alguém flutuar, também acompanhamos as jogadas dela. É o mesmo encanto. É a mesma magia. Brilham os olhos. No final, aplausos, gritos entusiasmados, assovios, tudo junto.

Até mesmo o maior dos mágicos deve tirar a cartola para ela. O controle sobre a bola é feito de forma inexplicável. Como se tivessem nascido uma para a outra. Do diálogo entre pés e bola, nascem jogadas antológicas, que marcarão para sempre.

A matéria-prima da mágica é o sonho. A do futebol, também. E desde que nasceu essa Mágica no mundo da bola, as coisas nunca mais foram as mesmas. O gramado vira tapete vermelho quando ela joga; as redes vertem ambrosia quando ela faz gol; adversários se transformam em súditos e aplaudem de pé.

O mundo da bola se curva aos pés da alquimista que transforma ouro em sonho e melhor do mundo em sinônimo de Marta.

*reverências*


Se estiverem à procura de informações jornalísitcas sobre o fato, clique aqui.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ave Franklin. Por BruneLLa França.

Quarto Poder, Conselho Federal de Jornalismo, blogosfera, um toque de futurologia e outras coisinhas mais

200 Anos de Imprensa no Brasil. Quase 200 no Espírito Santo. Para comemorar a data, um fórum com o objetivo de discutir comunicação. A iniciativa é muito boa, visto que a comunicação tem que ser discutida sim. Mas quando o debate é puxado pela maior empresa de comunicação do Estado, aí, óbvio, as coisas ficam mais parciais que de costume (se alguém ainda vier com aquele discurso de ‘imparcialidade’ da imprensa eu corto relações!).

Na primeira palestra, ouvimos o jornalista José Casado, de O Globo. A fala dele foi, desde o início, construindo a imprensa como a guardiã da democracia. Casado deu exemplos de casos como o do correspondente do New York Times, Larry Rother, que foi ameaçado de expulsão do País por uma matéria na qual ressaltava o gosto do presidente Lula por bebidas. A frase mais usada pelo jornalista durante sua fala foi: “A democracia não está integralmente consolidada no Brasil”. Para Casado, falta respaldar a democracia com a irrestrita liberdade de expressão.

Não cometerei a hipocrisia de dizer que sim, nós vivemos na democracia plena. Mas também não posso embarcar nessa defesa quase cega de que a imprensa é um dos pilares da democracia. Primeiro, há de diferenciar aqui duas liberdades que são usadas como sinônimos e não são. Liberdade de expressão é uma e liberdade de imprensa é outra.

A liberdade de se expressar é um direito personalíssimo, ou seja, individual e intransferível, pelo qual todos e todas têm direito, sempre respeitando a Constituição Federal (regrinhas básicas de convivência, como não caluniar, não difamar e não injuriar o próximo, nem fazer acusação sem provas estão descritas lá; quem quiser se arriscar, que arque com as conseqüências). Já a liberdade de imprensa está atrelada ao direito à informação, que também é um direito de todos e de todas.

Deixando esses pontos bem esclarecidos, podemos prosseguir. Lá pelo final da fala de Casado, foi aberta ao público a oportunidade de fazer perguntas. Uma delas questionava a posição do jornalista em relação à criação do Conselho Federal de Jornalismo. Não acredito que alguém que acompanhou toda a palestra dele pudesse ter dúvidas de que ele se pronunciaria contra.

Lembram-se da emblemática frase do Ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, "uma mentira contada mil vezes torna-se verdade"? Ela cabe bem no que eu quero expor aqui. A imprensa se auto-determinou o Quarto Poder. Produziu discursos que criam essa sensação e é defendida como tal. Acontece que a imprensa – e os jornalistas que dão corpo a ela, em sua maioria – tanto fizeram para passar o discurso que acabaram acreditando nele. E eis o problema!

Na República, o regime democrático vigente no Brasil hoje, temos os três poderes. E eles não vieram do nada. A Teoria dos Três Poderes foi consagrada pelo pensador iluminista francês Montesquieu. Baseando-se na obra Política, do filósofo grego Aristóteles, e na obra Segundo Tratado do Governo Civil, publicada pelo inglês John Locke, Montesquieu escreveu sua obra, O Espírito das Leis, traçando parâmetros fundamentais da organização política liberal adotada pelo Ocidente (é sempre bom situar o contexto tratado).

Montesquieu foi o responsável por explicar, sistematizar e ampliar a divisão dos poderes que fora anteriormente estabelecida por Locke. Pela obra do filósofo, é fundamental estabelecer a autonomia e os limites de cada poder. Criou-se, assim, o sistema de freios e contrapesos, o qual consiste na contenção do poder pelo poder, ou seja, cada poder deve ser autônomo e exercer determinada função, porém o exercício desta função deve ser fiscalizado pelos outros poderes. Assim, pode-se dizer que os poderes são independentes, porém harmônicos entre si.

Muito bem. Muito bonito. E onde entra a imprensa nisso aí. Entra e não entra. O Quarto Poder, como está hoje, não é fiscalizada por nenhum outro poder. Qualquer tentativa – não de fiscalizar, mas de regulamentar, como é a idéia do Conselho – é rechaçada sob a alegação de censura. A imprensa se coloca como um dos pilares da democracia sem ser, todavia, democrática. O auto-entitulado Quarto Poder se coloca e acredita estar acima de todos os outros e assim quer permanecer (ou alguém ainda acredita que o jornalismo hoje faz revolução? É muito mais fácil trabalhar para manter o status quo).

Após a fala de José Casado, tivemos uma mesa redonda sobre o futuro da imprensa. Compunham a mesa o professor doutor do curso de comunicação da Ufes, José Antônio Martinuzzo; a secretária de comunicação de Vitória, Ruth Reis; o diretor de telejornalismo da rede Gazeta, Carlos Tourinho e, como moderador, o diretor de redação de A Gazeta e Notícia Agora, Carlos Antônio Leite.

É claro que o tema principal foi a convergência de mídias, as mudanças que a internet está trazendo – sim, é no gerúndio mesmo! – para o campo da comunicação, as possibilidades e os desafios desse novo meio. Sempre cauteloso, o professor Martinuzzo puxou a reflexão lembrando que nós vivemos hoje o futuro do passado, damos os passos que alguém pensou bem antes de nós. Assim, fica mais fácil desenhar possíveis cenários, flexíveis sempre, porque a tecnologia avança cada vez mais rápido.

E foi aí que chegamos à blogosfera. Blogueiro é jornalista ou não é jornalista? A resposta aqui é bem clara – vou até usar o caps lock – NÃO, BLOGUEIRO NÃO É JORNALISTA. Antes que me chamem de puritana radical, continuem lendo, por favor. Blogueiro não é jornalista simplesmente porque blogueiro não é uma profissão, não vem de uma ciência, não é um saber-fazer. Blogueiro é aquele ou aquela que tem blog. Então blogueiro pode ser jornalista? Se o blog é de um jornalista, sim. Se não é, dificilmente.

Fato: o mundo não cabe na imprensa, no jornal (Oooooooooooooh! Pois é, sinto muito se o seu mundo caiu e a casinha do Bob também!). O jornal é um recorte, um ângulo de visão, um simulacro de realidade. Agora o mundo cabe na internet. É claro que se eu quero uma informação sobre uma banda eu terei muito mais num site ou num blog do próprio artista ou de um fã do que na imprensa. Motivo óbvio: o artista e o fã tem muito mais informações a respeito do trabalho dele do que o jornalista de um caderno de cultura e entretenimento por aí.

Agora, se eu quero saber alguma coisa sobre economia ou política, também posso procurar blogs de pessoas que escrevam sobre o assunto. Aqui vem uma coisinha chamada credibilidade (construída pela imprensa com aquele discurso furado de objetividade, neutralidade e imparcilaidade – mas foi tão bem feito que colou, fazer o que?!).

Sim, eu sei que o discurso jornalístico exerce uma grande influência na constituição da experiência coletiva de um real cotidiano. Sei também que o simples fato de um acontecimento estar inserido ou não no campo dos discursos jornalísticos implica em que faça parte ou não do repertório de atualidade do público. Resumindo, eu sei que o discurso jornalístico tem autoridade na sociedade (democrática ocidental, é bom deixar claro).

Mas isso não impede ninguém de querer – e poder – construir o seu próprio discurso, a sua própria mídia, a sua própria verdade no espaço blog. Será que só porque não é um jornalista – ou pretenso jornalista – postando aquilo que ali se escreve é uma deliciosa viagem na maionese? Mesmo em se tratando de campos que requerem um grau de análise e conhecimento maior, como a economia e a política?

Se vivemos partilhando um mesmo contexto, se vivemos todos num mundo capitalista, se somos todos seres pensantes, por que só quem está autorizado a falar, só quem tem credibilidade é o jornalista? Por que a sociedade assim determinou? Ou por que a imprensa assim determinou? (Lembram da discussão sobre o Quarto Poder mais acima? A-ha!)

Aqui podemos inserir a pausa para o coffee break. Após o debate, tivemos mais uma palestra, desta vez sobre assessoria de imprensa no mundo contemporâneo. Mas nada que os alunos de Martinuzzo já não tenham ouvido em aula. A palestrante só usou uma série de termos estrangeiros, dificultando a compreensão de todos e todas, ou seja, dificultando a comunicação (que coisa, não?)!

Eu só acrescentaria aqui o significado de stakeholders – quando a palestrante falou sobre isso, eu vi muita gente com mais cara de paisagem que nas outras palavras. Stakeholders – simplificando (é o espírito jornalístico!) – são os grupos de influência de uma organização.

Bem, o objetivo deste texto é fomentar o debate acerca de tudo que aqui foi abordado. Então, agora é a sua vez. Gritem, esperneiem, esbravejem nos comentários. Divirtam-se!



domingo, 16 de novembro de 2008

Ave Franklin. Por BruneLLa França.

Dialogus istranhus

Interlocutor pergunta:
- Bru, o que é o jornal pra você?

Bru responde:
*silêncio - não que eu não tenha o que responder, mas sim porque eu sempre prefiro pensar um pouquinho antes*
- O jornal... O jornal é uma babel quase vazia de sentido...

Interlocutor diz:
- Uau! Eu não esperava por isso! O jogo está ficando interessante! Quase vazia de sentido?

Bru responde:
- É. Não tem nenhuma crítica ali, nenhuma reflexão. Tudo bem que se cria a ilusão de que ao ler aquele jornal você fica bem informado, sabe do que aconteceu no mundo. Doce - ou amarga - ilusão! Os jornais estão mais preocupados em vender um mundo transparente, simples e perfeitmente acabado, em manter as coisas como elas estão... É uma questão de semiótica...

Interlocutor desprevenido fica em silêncio.
Silêncio.
Silêncio.
Mais um pouquinho de silêncio.
Finalmente, ele questiona:
- O que é semiótica?

Bru fala:
- Tem um livro da coleção primeiros passos com esse título, exatamente. O que é semiótica. É bem fácil de ler...

Interlocutor pergunta:
- Não tem como me adiantar o assunto?

Bru responde:
- Ok. Acomapnha o raciocínio. 
Qualquer ato comunicativo envolve a construção de sentidos, pois essa característica é própria da linguagem. O mundo, porém, não apresenta uma face legível que temos que decifrar apenas. A realidade - múltipla e complexa - não tem um significado anterior ao momento de sua verbalização e interpretação. Cada um dá sua forma a ela, entende? 

Interlocutor confuso:
- Ham... Não sei.

Bru esclarece:
- O que eu quero dizer é que o mundo em que vivemos, a realidade ou as realidades, os relacionamentos, os indivíduos são construções, da linguagem. Tudo é texto. Não no sentido de ser letrinhas juntas, mas da origem da palavra, tecido, tessitura.

Interlocutor confuso²:
- E cadê a sua semiótica?

Bru explica:
- Está aí! Eu disse que tudo é texto. É  a semiótica que estuda esses textos. O que está dito e o que se quer dizer no mundo, nas realidades, nos jonais. A semiótica é tudo (especialmente para Lele!), resumindo.

Interlocutor diz:
- Hum... Sabe, eu tava aqui pensando (uau!) No que você disse sobre o jornal... Mas você faz jornalismo!

Bru confirma:
- Eu estudo jornalismo. Sim, e daí?

Interlocutor pergunta:
- E você vai trabalhar no jornal?

Bru responde:
-Não necessariamente, mas é sempre uma possibilidade.

Interlocutor pergunta:
- O que é o Jornalismo, então?

Bru responde:
*silêncio para pensar*
- Numa síntese... A arte de parafrasear!

Interlocutor se indigna:
- Mas isso é fácil demais.

Bru joga um balde de água fria:
- É óbvio que não, meu bem.

Interlocutor em dúvida:
- Então, qual é o segredo?

Bru responde:
- Vocabulário chave, possíveis parafraseados chaves (não me refiro ao desenho!), e, é claro, COMO fazer a paráfrase! Ha ha ha! Mais uma vez, uma questão de semiótica!

Interlocutor se recolhe.


quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ave Franklin! Por BruneLLa França.

O discurso da mudança ganhou os Estados Unidos

As desconfianças do mundo em torno do resultado da eleição estadunidense terminaram no anúncio de Barack Hussein Obama Jr, de 47 anos, como o mais novo residente da Casa Branca. Sim, os Estados Unidos da América elegeram o primeiro presidente negro da história do país. Quarenta e quatro anos após o fim da segregação racial, Obama é o 44º a assumir o governo daquela nação (recuso-me a fazer análises esotéricas aqui!).

Após dois longos – e duvidosos – mandatos de George W. Bush, os democratas voltam ao poder. Obama conquistou os eleitores com seu carisma e retórica. O primeiro presidente democrata a alcançar a maioria absoluta dos votos válidos. Não é pouco para um político considerado tão jovem, que sai do Senado diretamente para a Casa Branca.

O mais impressionante é como Obama conseguiu votação tão expressiva sendo um candidato de fora do establishment dos partidos. Nas primárias do partido, ele derrotou ninguém menos que a senadora Hillary Clinton, então favorita para disputar as eleições deste 4 de novembro.

O lema “Yes, we can” foi gritado por jovens, negros, brancos, mulheres. Uma verdadeira multidão assistiu ao discurso da vitória do jovem presidente na noite de ontem em Chicago.

A vitória de Obama foi nada menos que arrasadora. Ele venceu com folga no Colégio Eleitoral e no voto popular. E os estadunidenses ainda lhe deram maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, um cenário promissor para o novo presidente. É claro que o desastroso governo de Bush contribuiu para a derrota dos republicanos. O fim da “era Bush” era quase um clamor dentro dos EUA. Outro fator que teve importante destaque na eleição foi / é a crise financeira que sacode o mundo e ajudou a sepultar as últimas chances de McCain.

A campanha de Obama também merece destaque. O trabalho de comunicação organizacional foi praticamente perfeito. A maior marca da campanha dele - e o motivo pelo qual a eleição americana não mais será a mesma - foi o uso revolucionário da internet para arrecadar nada menos que US$ 700 milhões e a utilização de diferentes canais de mídia para divulgar sua candidatura.

Os discursos feitos durante a corrida presidencial foram considerados brilhantes. Obama frisou que foi o único a se opor à guerra do Iraque desde o início e defendeu um cronograma de retirada das tropas, palavras que foram de encontro ao clamor do povo estadunidense.

Assolado pela crise financeira e desgastado pelo governo Bush, um discurso inflamado, cheio de esperança e proferido por um jovem candidato convocando o povo à mudança encontraram eco e apoio entre o eleitorado. O resultado quase não podia mesmo ser diferente.

Com o apoio do mundo, no dia 20 de janeiro Brack Obama assumirá o governo da (ainda) maior potência econômica e militar do planeta. E é claro que ele vai trabalhar para manter esse status. Fica a expectativa do COMO fará isso, já que, pelo perfil, Obama é contrário a guerras.

O mundo inteiro também aguarda as diretrizes do novo presidente para a economia. A questão de Cuba também é outro ponto a se prestar atenção. E o Brasil, bem, nós devemos ter uma dificuldade maior para exportar produtos para os EUA. A política protecionista deve se intensificar. O problema da imigração também deve ser tratado por Obama, mas, então candidato, esse tema não foi muito abordado durante a campanha.

O que não se pode negar é que para os Estados Unidos a eleição de Obama é, de fato, uma (r)evolução.

O discurso da vitória

domingo, 5 de outubro de 2008

Ave Franklin! Por BruneLLa França.

Em Colatina, a competência venceu o dinheiro

A chapa Leonardo Deptulski e Cirilo de Tarso (PT / PV / PPS / PMN / PMDB / PTB) começou a campanha com modestos 4% de intenção de voto. Hoje, dia 5 de outubro, alcançou 47.82%, segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES). Uma virada não esperada pelo candidato da outra chapa, Paulo Foletto (PSB / PSDB / PTC / PP / PSC / PR / PSDC), que começou a campanha com mais de 50% das intenções de voto.

Derrota não esperada também pelo governo do Espírito Santo. Apesar de o PMDB apoiar
a candidatura de Leonardo (PT) em Colatina, o candidato do governador Paulo Hartung (PMDB) era Foletto (PSB).

A figura central na vitória da coligação Colatina no Rumo Certo não veio do Palácio Anchieta nem do Senado Federal. A figura central na eleição de Colatina foi o atual prefeito, Guerino Balestrassi (atualmente sem partido).

Fiel ao projeto político traçado para o município, Guerino não apoiou a candidatura do atual deputado estadual, Foletto, à prefeitura de Colatina. Ele sabe o quanto é importante ter representatividade na Assembléia Legislativa do Estado para dar suporte ao plano de desenvolvimento estratégico da cidade.

Mas Guerino também sabia da competência de Leonardo para administrar Colatina. Deptulski foi o Secretário de Planejamento durante o primeiro mandato de Balestrassi (2000-2004). E depois entrou como vice no segundo mandato do atual prefeito (2004-2008).

O plano de desenvolvimento sustentável de Colatina 2000-2025 foi elaborado sob a coordenação de Leonardo, então secretário. As obras, as melhorias na infra-estrutura somadas à transparência e à ética da administração recolocaram a cidade na rota de investimento de grandes empresas e devolveram a Colatina posição de destaque na logística da economia do Espírito Santo.

Sob o governo de Balestrassi, a educação municipal ganhou destaque. Guerino, por suas ações sociais, ganhou da Unicef o selo de reconhecimento de Prefeito Amigo da Criança. Em 2004, com o projeto de inclusão social de ex-detentos, a Prefeitura Municipal de Colatina (PMC) ganhou o Prêmio Direitos Humanos, promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal. No projeto de recuperação da Bacia do Rio Doce, o atual prefeito foi eleito por aclamação pelos outros prefeitos do Estado, nas duas eleições, para assumir a presidência do conselho que gerencia os trabalhos no Espírito Santo.

Esses são só alguns exemplos do que a atual administração fez por Colatina. Nossa cidade estava abandonada. A prefeitura, loteada por políticos que se preocupavam muito mais com suas carreiras e seus parentes do que com a população do município. Guerino se candidatou como uma alternativa a velhas práticas políticas na cidade. Venceu. E, por sua competência, convenceu os eleitores a lhe darem um segundo mandato.

As obras feitas, as melhorias no sistema educacional do município, na saúde e em todas as áreas são a parte visível do que foi feito e está sendo feito por Colatina. Mas o maior legado de Guerino, o Guerreiro, é ter devolvido à população do município o orgulho de ser colatinense. Balestrassi foi, portanto, a peça fundamental na vitoriosa campanha de Leonardo e Cirilo.

Foletto, por sua vez, fez ataques pessoais ao atual prefeito, mas se mostrou incompetente para conquistar a confiança da maioria da população. O candidato dispunha de muito mais dinheiro, fez uma campanha rica, com grandes patrocinadores. O deputado tinha ainda o apoio declarado do Palácio Anchieta. Tanto de Hartung, quanto do possível candidato a governador em 2010, o hoje vice, Ricardo Ferraço (atualmente sem partido).

A princípio, a vitória do PT em Colatina não é uma derrota do governo do Estado. Apenas a princípio, numa leitura rasa. Analisando o novo desenho político do Espírito Santo, nasce, das prefeituras, uma potencial força de oposição ao governador. A coalisão partidária que deu dois mandatos a Hartung não se manterá em 2010. Dois cenários de oposição são possíveis. Um com uma candidatura do PT, que sai fortalecido com os resultados das eleições – fazendo eco ao cenário nacional –, e outro com uma coalisão contrária às forças do governo atual.

Se antes das eleições municipais era quase certo que o próximo governador do Espírito Santo sairia de uma reunião numa salinha do Palácio Anchieta, hoje, é fato, essa certeza não existe mais.


Resultado das eleições Colatina 2008 - votos válidos
Leonardo (PT) 47.82%
Foletto (PSB) 41.03%
Josias da Vitória (PDT) 7.82%
Décio Rezende (PSOL) 3,33%

Fonte: G1.